sábado, 4 de fevereiro de 2012

Santas Convenções.





Muito provavelmente, a cidade onde você mora tem um santo padroeiro. Ou santa. Embora um mesmo santo possa dar conta de várias cidades ao mesmo tempo, o Brasil pode se dar ao luxo de ter um santo ou santa diferente para cada um dos seus 5.566 municípios. Mas aí, acho que iria faltar santo para apadrinhar outras coisas (das mais diversas). Por exemplo, a santa Cecília aí da imagem é a padroeira dos músicos.
E como uma santa se torna padroeira de uma cidade (ou dos músicos)? Eu não sei. Mas isso não é novidade: eu sou muito ignorante. Mas eu gostaria muito de saber. Só que duvido que seja algo diferente disso: alguém, aqui na Terra, um ser humano igual a mim, baseado na simpatia de seu grupo social por um determinado santo, oficializa a preferência: tal santo é o padroeiro de tal cidade. Ponto. Se houver um documento para assinar, ele lasca uma assinatura. A partir daí, o povo ganha mais um feriado, e o santo, mais uma obrigação. Ninguém vai se lembrar, depois, que foram eles próprios que fizeram a coisa toda. E o feriado passa a ser sagrado. Simples assim.
Às vezes, só precisa mesmo de uma pessoa investida de autoridade suficiente para declarar algo como sagrado. O resto é propaganda, e décadas de tradição.
Esse mecanismo funciona mais ou menos do mesmo jeito para todas as coisas que são consideradas sagradas. A "Assunção de Maria"; o Santo Graal; a Terra Santa; o Santo Sudário; a Transubstanciação; a Cruz; a Bíblia. As pessoas consideram tais coisas sagradas porque, em algum momento, um homem ou uma comunidade resolveu definir que assim era.
Mas uma santa ser padroeira de uma cidade é pura convenção; a "Assunção de Maria" aos céus é um dogma; o pão que se torna carne, e o vinho que se torna sangue, idem; o Santo Sudário é uma fraude; o Santo Graal era só um verso num poema; a Terra Santa é apenas uma cidade histórica; a Cruz era um instrumento de tortura; a Bíblia é um punhado de livros escritos por um punhado de gente. Essas coisas só se tornaram sagradas porque o ser humano as relacionou à sua divindade. Por autoridade, por tradição, por convenção.

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